Você sabe o que é Arpillera? Já ouviu falar sobre isso? Quem curte artes manuais ou faz das
artes em geral um modo de amenizar o estresse do cotidiano vai adorar
conhecer a Arpillera.
Recentemente fiz um curso de arte na UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio
Ambiente e da Cultura de Paz) da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente
da cidade de São Paulo, no parque do Ibirapuera, que me encantou.
O curso cujo nome era “Mãos que tecem, vozes que clamam”, tinha como facilitadora (o modo que eles usam para denominar a pessoa que orienta e conduz o curso) Maria Cecília Ferri, uma mulher de fala mansa e paciência de Jó, mas, com uma determinação de dar inveja.
Nesse curso, Maria Cecília nos introduziu (eu e os outros participantes) no
mundo das Arpilleras, ideia que ela trouxe do Chile quando de uma viagem ao país
e se apaixonou pela arte.
Mas o que são as Arpilleras?
Arpilleras são tecidos bordados de forma bastante simples e ao mesmo tempo
complexa.
Usa-se preferencialmente juta como base e retalhos de tecidos e fios para
criar cenas do cotidiano ou mesmo lembranças de tempos passados, que são
costurados à juta com pontos livres.
Ninguém precisa saber bordar nem costurar. Basta saber segurar uma agulha e
ter imaginação.
O resto vai sendo criado em meio a uma balbúrdia de risos e falas e até
algumas lágrimas, contação de histórias, lembranças de infância, expectativas
para o futuro e tantos outros assuntos.
As Arpilleras surgiram no Chile numa época em que a situação política do país
estava borbulhando. Pessoas desaparecidas, mulheres empobrecidas; dores de corpo
e de alma fervilhavam.
As mulheres se encontravam para conversar e bordar suas angústias e dores.
Não tinham grandes possibilidades financeiras, por isso usavam retalhos e
equipamentos rudimentares.
Costuravam à mão e aproveitavam diferentes materiais e técnicas.
Mesmo quem não sabe bordar está apta a criar uma Arpillera, pois há poucas
regras.
Bastam apenas algumas diretrizes:
Primeiro, é preciso muita vontade.
Segundo, é preciso ter sonhos e lembranças.
Terceiro, é preciso juntar retalhos, linhas e agulhas.
Quarto, não vale usar cola quente.
Quinto, é bom ter histórias de vida para contar, mas se não quiser contar
nada também pode.
A partir disso surgem obras de arte maravilhosas, embora populares e sem
técnicas elaboradas ou complexas.
Bordam-se tapetes, mantas, colchas, livros e tudo o que a imaginação criar.
Descobri que a simplicidade pode esconder obras de arte espetaculares.
Comecei minha Arpillera sem acreditar que pudesse fazer algo de algum valor,
afinal eu não sou nenhuma bordadeira.
Conheço vários pontos de bordado, mas daí a saber executá-los tem um grande
vácuo.
Foi uma agradável surpresa descobrir que mesmo não sabendo bordar consegui
fazer um tapete bem simpático.
O mais intrigante é que minha Arpillera saiu tão recheada de sentimentos que
eu me flagrei com ciúme dela. Não quero que ela se perca, quero-a bem próxima a
mim.
Isso me empolgou. Já quero fazer outras mais. A cabeça anda cheia de projetos
e fantasias para colocar em prática.
Algumas Arpilleras foram fotografadas durante as aulas para que você possa
conhecê-las e entender sobre o que estou falando.
Mais tarde, quem sabe, possa procurar onde se ensina essa técnica tão bonita
e tão carregada de sentimentos.
Artigos Recomendados:
- Terapia do tear. Acalmando a mente através do trabalho manual.
- Pantufas. Esquema de execução em tricô ou crochê.
- Renda Nhanduti ou Renda Sol. Um modo de tecer.
- Ponto Capitonê. Um Bordado de Fuxicos e Fofocas.
- Emendando peças de tricô, crochê e tear com pontos invisíveis.
Olá Telma, esta arte é mesmo belíssima. Há um grupo de contadores de histórias no RJ chamado Os Tapetes contadores de histórias, cujo uma das integrantes é do Peru, e um dia assisti uma palestra dela contando esta história que você acabou de colocar, que deve ter sido na mesma época que aconteceu no Chile. Também me encantei por esta arte e adorei encontra-la aqui.
ResponderExcluirObrigada por sua visita e comentários.
ExcluirDepois de algumas pesquisas descobri que Arpillera significa "Juta". É uma técnica nascida no litoral do Chile, em Isla Negra, por um grupo de bordadeiras que sentiam a necessidade de expressar suas angústias e sentimentos de cunho político. Foi bem numa época de grande repressão, quando maridos e filhos dessas bordadeiras despareciam por suas atividades de protestos políticos. A técnica é simples e usa materiais simples, mas expressa muita verdade e sentimentos profundos de um povo reprimido pelo governo totalitário da época.
E as bordadeiras de Minas Gerais, que bordam o mundo roseano? Belíssimo trabalho também.
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