by Roberto M.
Acredita-se que a popularização do tricô ocorreu a partir da Idade Média. Na Idade média, uma revolucionária técnica de tecer estava agitando toda a Europa. Esta nova técnica fazia com que a produção de têxteis coloridos e
luxuosos se tornassem muito mais fáceis. Os europeus obtiveram essa técnica dos países islâmicos do Mediterrâneo,
juntamente com várias outras coisas de valor cultural elevado, tais como
alquimia, bordado, literatura grega e o conceito do zero.
Esta nova tecnologia revolucionária, nada mais era do que a arte de tricotar:
o tricô.
O tricô era fácil e rápido de aprender. Ao contrário de outros métodos de
tecer, existentes à época, não exigia equipamentos caros e complicados. Com
alguns palitos metálicos, de madeira ou de osso e com alguns fios de linha
coloridos, era possível criar quaisquer peças a partir de desenhos
elaborados.
AS MAIS LONGÍNQUAS CITAÇÕES
Uma das mais antigas referências ao tricô que se tem notícia é encontrada na
obra “Odisseia” de “Homero”, provavelmente datada de finais do século
VIII a.C. onde é apresentada a personagem “Penélope” que desgostosa
pelo não regresso de seu marido “Ulisses” da guerra de Troia, passa o dia
tricotando uma peça que à noite era desfeita, adiando indefinidamente a ordem de
seu pai de se casar com um novo pretendente, casamento esse que se daria após o
término do trabalho.
A arqueologia também ajudou a recuar no tempo a prática da arte de tricotar.
Os exemplares mais antigos que se conhecem datam de 1000 a.C. e trata-se de
meias, descobertas no Egito com desenhos considerados bastante complexos, o que
leva os arqueólogos a acreditarem que a técnica é extremamente antiga, pois para
chegar a tal nível de complexidade seriam necessários muitos anos de tentativas
menos perfeitas.
Entretanto, essas antiquíssimas citações podem não se referir ao verdadeiro
tricô que hoje conhecemos. Podem, isso sim, relatar casos das técnicas de tecer
que inspiraram o surgimento da técnica atual de tricotar: com duas agulhas e
fios contínuos.
A HISTÓRIA DO TRICÔ
O tricô já surgiu como uma daquelas artes intemporais, que ficariam para
sempre.
Na verdade, parece ter sido inventado em algum momento no final do primeiro
milênio da era cristã. Talvez já no século oitavo. As peças mais antigas que
ainda sobrevivem (todas de países islâmicos) são datadas, pelo seu estilo de
decoração, dos séculos nove, dez e onze. Mesmo essas primeiras peças já eram
dotadas de intrincados desenhos multicoloridos. A maior parte desse material foi
encontrado em sepulturas e montes de lixo no Egito e em outros locais muito
secos, onde os têxteis eram mais propensos a se preservar.
Essas primeiras peças incluem um par de luvas cerimoniais de bispos (datadas
em torno de 1245) e duas coberturas de almofadas. Todas finamente tricotadas em
seda, vieram dos túmulos reais do Mosteiro de Las Huelgas, perto de Burgos. Uma
das almofadas carrega uma inscrição islâmica simples (a repetição da palavra
“Baraka”, que quer dizer “bênção”) e pode ter sido feita por um artesão
islamita. Outro artesão assinou seu nome, “Husain”, em uma almofada de estilo
surpreendentemente similar vindo do mesmo conjunto de túmulos.
Falar do início da história do tricô é meio complicado pois, por um longo
tempo, existiu uma confusão entre o tricô que conhecemos hoje com um outro tipo
de artesanato têxtil, o nalbinding.
O Nalbinding apareceu
há muito tempo e criava tecidos muito semelhantes ao tricô. O processo de
tecimento caracterizava-se por pedaços de fios elásticos entrelaçados um ponto
por vez. Nalbinding era uma série de “nós”
entrelaçados, feitos com uma agulha de costura e com pedaços de
fios cortados em comprimentos padronizados. Este processo serviu de inspiração
para o processo manual do tricô.
A principal diferença estrutural entre o antigo nalbinding e o atual tricô era que no nalbinding, a extremidade do fio era passado através de
cada ponto. O Tricô, por outro lado, é construído a partir de um fio contínuo, e
um laço,em vez de um nó, é puxado através de cada ponto.
Pode ser difícil, às vezes, dizer que a técnica foi usada, embora haja sinais
indicadores quando se sabe como e onde olhar. Portanto, os arqueólogos, que não
são historiadores têxteis, não têm mesmo a obrigação de saber que o nalbinding existiu. Muitas peças têxteis feitas através do
nalbinding pelos romanos e até mesmo dos tempos
egípcios foram confundidas com “tricô” em relatórios arqueológicos (ou pior
ainda, com crochê, que só foi inventado no século 19).
A teoria predominante sobre a origem do tricô é que,
provavelmente, evoluiu a partir do nalbinding, quando
alguém percebeu que, não puxando a extremidade do fio através de cada ciclo, um
fio contínuo poderia ser utilizado para o trabalho inteiro.
Assim como no nalbinding, diz a teoria, as
primeiras peças de tricô foram, provavelmente, trabalhadas em círculos para
fazer formas cilíndricas ou cônicas, tais como meias ou chapéus.
Na verdade, muitas das peças remanescentes dos primórdios do tricô mostram uma torção ou uma incompatibilidade no padrão, provando que elas devem ter sido tricotadas em círculos, com a torção ocorrendo ao final de cada rodada.
Na verdade, muitas das peças remanescentes dos primórdios do tricô mostram uma torção ou uma incompatibilidade no padrão, provando que elas devem ter sido tricotadas em círculos, com a torção ocorrendo ao final de cada rodada.
Isto significa que o tricô em círculos é muito mais antigo do que o tricô com
idas e voltas e duas agulhas, a forma descrita mais modernamente. Não se conhece
exemplos claros de tricô com idas e vindas até perto de 1600, quando jaquetas
com estampas elaboradas tricotadas com fios de seda e fios de ouro entraram na
moda.
O tricô com carreiras que vão e que voltam é usado para criar peças planas,
que são depois costuradas e emendadas para fazer um item acabado
Fontes: 1 - Rutt, Richard - A History of Hand Knitting - Loveland, CO:
Interweave Press, 2003.
2 - MEDIEVAL KNITTING – acessado em 25/08/2016
Artigos Recomendados:
- Montagem Simples da base de Pontos na Agulha de Tricô (Single Cast on).
- Montagem à italiana da base de Pontos na Agulha de Tricô (Long Tail Cast On).
- Montagem à francesa da base de Pontos na Agulha de Tricô (Knitted Cast on).
- Montagem à inglesa da base de Pontos na Agulha de Tricô (Cable Cast on)
- Técnicas de Montagem dos Pontos na Agulha de Tricô. Como fazer a Base da Primeira Carreira. Introdução
- Renda Nhanduti ou Renda Sol. Um modo de tecer.
- Patchwork ou Quilt? Um pouco de história, conceitos e diferenciações.
- No Mundo dos Bordados Manuais. Os acessórios necessários para bordar à mão.
- Crochê: Histórias e Teorias sobre a origem desse antiquíssimo artesanato.
- Tricô sem agulhas. Use apenas os braços.
Genial, Roberto. Os primórdios do Tricot são curiosos. E esse tal de tal de nalbinding, heim? Muito legal! Nelsina Ventura
ResponderExcluirA matéria sobre o tricô foi de grande utilidade.
ResponderExcluirSensacional a história do tricô,est estou fazendo um trabalho em relação aos tecidos feito a mão,me ajudou muito, agradeço
ResponderExcluirMuito bom msm!!👏🏼👏🏼👏🏼
ResponderExcluirSua matéria sobre o tricô é excepcional, conteúdo de grande ajuda para mim . Estarei utilizando o conteúdo para meu TCC sobre tricôs com fios de malha.
ResponderExcluirParabéns Roberto pelo bonito trabalho!